terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Medo



Os nossos maiores medos desde sempre. Ser rejeitado e ficar só. A nossa vida vai sendo moldada à volta destes medos. Mãe pega-me ao colo, aceita-me. Gosta de mim. Ama-me. Leva-me contigo para todo o lado. Isto logo no início. Depois vêm os amigos. Gostem de mim. Convidem-me para as vossas festas. Levem-me para a praia. Convidem-me para brincar convosco. Quero ser da vossa equipa. Gostem de mim. Aceitem-me. É claro que, no caminho, aprendemos que as coisas não podem ser assim. Temos que crescer. Tornarmo-nos responsáveis. Auto-suficientes. Confiantes. Embora fiquem sempre lá os nossos dois medos de estimação, aprendemos a dominá-los. A controla-los. A não sermos prisioneiros nem escravos deles. Mas há os que não conseguem livrar-se destes medos e respondem quase que por instinto.
Uns, para atraírem as atenções, falam alto. Querem dominar os outros. Ser mais fortes. Já que não o amam, então, vão respeita-lo. Nem que seja pelo medo. Ou então manipulam. Enganam e fingem para poderem saborear a presença dos outros. A aceitação deles. Outros ainda há, que não conseguindo ultrapassar os medos, saltam para um estado de revolta, de raiva de si mesmos. Por não conseguirem ser o que querem em vez de serem o que são. Compra-se um carro grande. Uma casa enorme. Constrói-se uma piscina. Uma cascata no quintal se for preciso. Mas isto não resolve. Só ilude. E a maior característica das ilusões é que são passageiras.
Então, cresce a frustração, a revolta, a inferioridade, a inveja, a raiva, a tristeza…
Para estes, uns conselhos: admitirem a si próprios quem são realmente; conhecerem-se melhor; admitirem os seus erros e falhas; estarem atentos e contrariarem o mais fácil que é render-se ao instinto. Ao medo.
Os animais, quando têm medo, fogem. Se sentem medo e estão encurralados, atacam. Nós somos iguais. Só que mais que os animais, depois de tudo isto, ainda temos a vergonha.
Vergonha é ser apanhado na sua verdadeira personalidade. É o que sinto depois de fazer uma coisa que não gosto de fazer. Que sei que não é correcto. Não é aceite. Sermos apanhados naquele segundo em que tiramos a capa, o disfarce e pensamos que ninguém estava vendo. Mas estava. E agora sabe quem sou. Como sou. E eu não quero que saibam. Porque tenho medo que não gostem e me rejeitem e depois fico só.
Os portugueses sofrem disto. Falta de amor e educação em crianças. Falta de crescerem com responsabilidade, com alguém atento que lhes corrija os passos e os faça afastarem-se do abismo da desgraça pessoal que se vê um pouco por todo o lado. Endividamentos, capas, fingimentos, alheamento das suas responsabilidades como seres humanos e como cidadãos. Alguém vai fazer. Alguém vai resolver. E a humanidade sofre disso e com isso. Falta de amor e de carinho pelos nossos filhos. Temos as desculpas dos preços a subir. Dos salários a descer. Da falta de tempo. Todas e mais uma desculpa. Mas que culpa têm os miúdos disso?

2 comentários:

  1. O medo faz parte de nós. Temos sempre medo de algo! De amar, de sofrer, de dar um passo em frente, de dizer algo, de tanta coisa...
    Faz parte! Por isso que eu digo, bola pa frente! Diz, pensa, sonha, vive sem medos! :)

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  2. O medo gera vítimas. É, a maior parte do tempo, o nosso pior inimigo. Tantas coisas que deixamos de fazer por medo. E é verdade que só existe dentro de nós, somos nós que o criamos, a partir de experiências que nos marcam, de feridas que teimam em não sarar.
    Iremos sempre ter medos. Uns que nos ensinam; outros que nos perturbam.
    Acredito que ao enfrentar um, conseguiremos forças para lidar com o seguinte. Tudo depende de nós! Da nossa vontade, coragem e convicção.

    ; )
    X@u

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