domingo, 30 de agosto de 2009

Mea Culpa. Não custa nada.



Porque nos é tão difícil admitir o erro? Porque é que a nossa alma se contorce quando temos que dizer “mea culpa”? Porque nos é tão difícil dar o primeiro passo numa reconciliação, ainda que a culpa não esteja do nosso lado?
Muitos responderão “por orgulho” mas eu acho que não. Trata-se de falta de auto-confiança. De falta de gostar de nós próprios. De falta de tantas coisas que são em cada caso diferentes. Geralmente, as pessoas de quem menos gostamos, por serem de uma ou de outra maneira, não são senão espelhos de nós próprios. Possuem alguma característica que nos incomoda. Que nos irrita. Mas porquê dessa irritação? Porque é que o facto daquela pessoa ser como é, quer eu goste ou não, despoleta em mim por vezes raiva e repúdio? Quanto a mim, nem mais nem menos que por eu próprio ter essa característica apesar de reprova-la nos outros. Travo uma batalha diária para conte-la, e custa-me. Custa-me porque sou assim e não gosto de ser assim. Contrario-me e as outras pessoas não o sentem. Mas eu sei o que sinto e o que sou. E não gosto. Tenho medo que as pessoas sintam o que penso. Que sintam o que sinto e não gosto de sentir. Seria mais fácil se dissesse às pessoas que travo essa luta interna. Que sou assim e que luto para me contrariar. Que não gosto de ser assim. Era menos uma luta. Era menos um medo. Era menos uma fuga, era menos um sorriso forçado. Era menos uma palavra que ficou por dizer. Era menos uma culpa a carregar. Era menos uma dor para sentir. E eu era mais honesto comigo e com os outros. E sentir- me –ia melhor. Menos julgado. Mais solto. Mais autêntico. Mais solto. Mais verdadeiro. Mais eu.
E se fôssemos todos assim? Humanos, que cometem erros e que lutam para se contrariar e que aliás é isso que nos faz humanos. Seríamos todos melhores e estaríamos todos bem melhor.
Errar é humano. Perdoar, também.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

O Medo



Os nossos maiores medos desde sempre. Ser rejeitado e ficar só. A nossa vida vai sendo moldada à volta destes medos. Mãe pega-me ao colo, aceita-me. Gosta de mim. Ama-me. Leva-me contigo para todo o lado. Isto logo no início. Depois vêm os amigos. Gostem de mim. Convidem-me para as vossas festas. Levem-me para a praia. Convidem-me para brincar convosco. Quero ser da vossa equipa. Gostem de mim. Aceitem-me. É claro que, no caminho, aprendemos que as coisas não podem ser assim. Temos que crescer. Tornarmo-nos responsáveis. Auto-suficientes. Confiantes. Embora fiquem sempre lá os nossos dois medos de estimação, aprendemos a dominá-los. A controla-los. A não sermos prisioneiros nem escravos deles. Mas há os que não conseguem livrar-se destes medos e respondem quase que por instinto.
Uns, para atraírem as atenções, falam alto. Querem dominar os outros. Ser mais fortes. Já que não o amam, então, vão respeita-lo. Nem que seja pelo medo. Ou então manipulam. Enganam e fingem para poderem saborear a presença dos outros. A aceitação deles. Outros ainda há, que não conseguindo ultrapassar os medos, saltam para um estado de revolta, de raiva de si mesmos. Por não conseguirem ser o que querem em vez de serem o que são. Compra-se um carro grande. Uma casa enorme. Constrói-se uma piscina. Uma cascata no quintal se for preciso. Mas isto não resolve. Só ilude. E a maior característica das ilusões é que são passageiras.
Então, cresce a frustração, a revolta, a inferioridade, a inveja, a raiva, a tristeza…
Para estes, uns conselhos: admitirem a si próprios quem são realmente; conhecerem-se melhor; admitirem os seus erros e falhas; estarem atentos e contrariarem o mais fácil que é render-se ao instinto. Ao medo.
Os animais, quando têm medo, fogem. Se sentem medo e estão encurralados, atacam. Nós somos iguais. Só que mais que os animais, depois de tudo isto, ainda temos a vergonha.
Vergonha é ser apanhado na sua verdadeira personalidade. É o que sinto depois de fazer uma coisa que não gosto de fazer. Que sei que não é correcto. Não é aceite. Sermos apanhados naquele segundo em que tiramos a capa, o disfarce e pensamos que ninguém estava vendo. Mas estava. E agora sabe quem sou. Como sou. E eu não quero que saibam. Porque tenho medo que não gostem e me rejeitem e depois fico só.
Os portugueses sofrem disto. Falta de amor e educação em crianças. Falta de crescerem com responsabilidade, com alguém atento que lhes corrija os passos e os faça afastarem-se do abismo da desgraça pessoal que se vê um pouco por todo o lado. Endividamentos, capas, fingimentos, alheamento das suas responsabilidades como seres humanos e como cidadãos. Alguém vai fazer. Alguém vai resolver. E a humanidade sofre disso e com isso. Falta de amor e de carinho pelos nossos filhos. Temos as desculpas dos preços a subir. Dos salários a descer. Da falta de tempo. Todas e mais uma desculpa. Mas que culpa têm os miúdos disso?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Tu, meu Mar












Como é bom reencontrar-te.
Como é bom mergulhar em ti.
Como é bom molhar-me em teu seio.
Como é bom ver-te.
Como é bom estar em ti.
Contemplar-te, só, faz-me forte.
Faz-me querer.
Lembras-me o que sou.
Lembras-me quem sou.
E eu que te olhava e não te via
Meu mar.
Preferi a segurança dos pasmados rios.
Quase me esqueci que existias.
Nem alguma vez te procurei.
Mas se um dia adormeci incauto.
E acordei em ti.
E gritei gritos mudos de alegria.
E disse da falta que sentia.
E de como és belo e imenso e azul e verde e transparente.
E quero pertencer-te e tu a mim.
E que o medo de afundar
Seja tão doce como tu és salgado.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

domingo, 2 de agosto de 2009

From Pablo

Morre lentamente quem não viaja,

Quem não lê,
quem não ouve música,
quem destrói o seu amor-próprio,
quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão,
quem prefere o "preto no branco"
e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
quem não se permite,
uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante,
desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves,
recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!»

Pablo Neruda