terça-feira, 19 de abril de 2016

Compromisso com o Norte

Compromisso com o Norte

Nuno Daniel Brazão Drummond
   Dezembro  de  2014



                                                                                     

1. Enquadramento

2. Investimento                                                                                                                                

      Simplificação e desburocratização                                                                                                                 
      Competitividade Fiscal                                                                                                                                    
      Fundos  Comunitários  
      
      Substituição e redução de  importações                                                                     
  
3. Turismo                                                                                                                                             

4. Comércio  e  Serviços                                                                                                                 

5. Conclusões                                                                                                                                          




1. Enquadramento:  

O PAÍS 
A destrutiva combinação do pobre desempenho económico, aliada a um défice e endividamento público incomportáveis, fez com que o Estado Português perdesse a capacidade de se financiar nos mercados e culminando com o pedido de assistência financeira em Abril de 2011. O pedido, foi feito pelo então PrimeiroMinistro, José Sócrates e assinado por três partidos. PS, PSD e CDS e a Troika, (FMI, BCE, Comissão Europeia), e que consistiu num empréstimo de 78000M€, sob a condição da execução de um conjunto de reformas estruturais e políticas de austeridade que visavam o cumprimento do equilíbrio das contas públicas. Portugal entregou assim a sua soberania financeira até Junho de 2014. As consequências, para a economia, deste esforço, foram muito negativas: a queda da procura interna, a quebra no investimento. A consequência social desta recessão foi o aumento do desemprego, com especial incidência nos jovens.

A MADEIRA E O NORTE DA ILHA
Ao longo dos anos, o progresso que um só partido escolheu para o norte, entrou-nos pelas vilas e freguesias adentro. Entre outras obras, vieram as pontes, as rotundas, os túneis, os jardins, as escolas, as iluminações, os tribunais, as lojas comerciais, os repuxos, os centros de saúde, os centros de ciências, os aquários municipais, os museus... Esqueceram-se todavia duma coisa - do futuro das pessoas. Não foram criadas mais-valias e poucos foram os investimentos fomentadores de riqueza e impulsionadores das economias locais. Com o passar dos anos e como resultado da falta de mecanismos e de planos para um desenvolvimento sustentável do norte, o que se vê é que essas grandes bandeiras do desenvolvimento, tantas vezes apregoado, salvo raríssimas excepções, estão a fechar por falta de sustentabilidade dos próprios projectos. Por serem disfuncionais. Por não se adaptarem aos locais onde foram implantados ou, simplesmente, porque não foi feita uma preparação e uma educação para o seu aproveitamento. Uma causa, que é também consequência, é a falta de jovens que se fixem no norte. Não era difícil de prever e é cada vez mais evidente. Não se emigra por prazer. Emigra-se com medo do futuro que não se apresenta no horizonte. Dentro de 20 anos, o que será o norte da ilha? É constrangedor na maior parte das vezes, principalmente na época baixa do Turismo, nos meses de inverno, num qualquer fim-de-semana, passear no centro de qualquer um dos concelhos do norte. Está quase deserto. Vêm-se raros turistas, sem rumo, a sondar o terreno em busca de coisas que nunca encontram, ou porque não existem, ou porque estão já fechadas, ou porque não há informação, ou ainda porque esta não lhes chega. Os comerciantes e hoteleiros, pela força da determinação que caracteriza as pessoas do norte, mantêm a porta aberta. Por hábito, por resiliência, e porque desistir não lhes está no sangue. Mas esse “fogo na alma” não paga passivos, nem salários, nem fornecedores.
Falta evidentemente um plano que aponte metas, métodos, caminhos, esforços, que nunca existiu. Sem isso todos estão isolados e vulneráveis e todo o esforço será, muito provavelmente, em vão. Será sempre cada um por si e, por isso, com o fracasso nas expectativas quase sempre como resultado garantido. Não chegam os arraiais, as excursões organizadas pelas agências, e festividades anuais e iniciativas avulsas. É preciso organizar, programar, é preciso reivindicar meios junto de todos os organismos que tutelam o turismo, a cultura, o comércio, as florestas, a orla marítima, os fundos da União Europeia. Mas antes disso, o trabalho de casa. Decidir o que queremos para o norte e como. Se continuarmos a adiar esta planificação, nunca caminharemos em direção alguma. O norte não se desenvolve sem as pessoas do norte.
Os concelhos a norte com os seus poucos eleitores, (e que são cada vez menos), são também pouco apetecíveis ao envolvimento dos partidos políticos. Faltou sempre sentirmos um interesse e envolvimento. Faltam ainda ligações essenciais entre concelhos (Via rápida São Vicente-Santana, por exemplo), não existem roteiros divulgados da cultura, da natureza, da hotelaria, de actividades, do lazer que se pode proporcionar, da calendarização das festas que se continuam a atropelar umas às outras. Não temos um programa que incentive e guie os jovens e os incentive a aprenderem o norte, a investirem e ficarem ou mesmo regressarem. Não temos sequer quem os informe do que podem fazer e como. É tempo, pois, de insistir.

Cabe-nos procurar e ser parte activa dum conjunto de reflexões, propostas e medidas que visam dar resposta a estas prioridades. Sem crescimento económico, não é possível reduzir o desemprego. Sem investimento privado, não é possível o crescimento económico.  
Sem  crescimento, e com o elevado nível de desemprego e emigração por parte das faixas etárias mais jovens, será incerto a curto-médio prazo o futuro do norte da ilha.

- Não nos podemos apresentar como alternativa, sem termos um plano concreto para o desenvolvimento dos concelhos do norte da ilha e sem nos envolvermos e nos dedicarmos a inverter a actual conjuntura, que se deteriora a cada dia que passa;
- É no norte que está a natureza que mais representa a promoção do destino Madeira;
- É no norte onde existe um potencial turístico ainda por planear e explorar;
- É no norte onde ainda estão vivas grande parte das tradições seculares do povo madeirense;
- É no norte onde as encostas se mantêm ainda verdes e o mar azul e transparente;
- É no norte que vive uma população cada vez mais envelhecida que precisa, cada vez mais, de apoio social;
- É no norte que existe a maior parte da produção de vinho na RAM;
- É do norte que vem cerca de 70% da água que abastece o sul da ilha.
- E é também no norte, que ainda faltam investimentos estruturantes em vias, transportes públicos, acesso à cultura, planeamento e aconselhamento para o investimento;
- É no norte que se emigra cada vez mais cedo, rumo ao estrangeiro, à procura dum emprego e dum futuro;
- É ao norte que os partidos dedicam menos atenção e tempo, porque é no norte que existem menos eleitores;
- É no norte onde existem os mais baixos níveis de instrução;
- É no norte que é quase ausente a formação profissional;
- É no norte que existe uma elevada taxa de trabalho a tempo parcial;
- Ao norte, falta uma voz que o represente nestas expectativas que a meu ver lhe são devidas .




2. Investimento  

Ao longo dos últimos anos os motores do investimento na região foram o comércio e serviços, a oferta hoteleira e construção das grandes infraestruturas públicas, com destaque para uma rede rodoviária principal (as vias rápidas) e a requalificação da orla costeira (marinas, portos, praias). Esta estratégia revelou-se errada e levou-nos a cair na “crise financeira” com que nos confrontamos: estagnação  económica e endividamento.
  
Com o pedido de assistência financeira à República (PAEF), o nível de investimento não melhorou. Dificilmente se convence um investidor a apostar numa região com uma procura interna sujeita a uma forte contracção e com elevadas taxas sobre os rendimentos e lucros. Tudo é mais difícil ainda no norte.

Simplificação  e  desburocratização  

Será mais pertinente fazer recomendações ao nível da simplificação e desburocratização, do financiamento e do acesso ao financiamento, da competitividade  fiscal e da gestão e da aplicação dos  fundos  comunitários, que serão, nesta altura, uma fonte de investimento crucial de forma a transformar o norte da ilha num destino amigo do Investimento, principalmente no sector do turismo.  

Nos últimos anos têm-se dado passos importantes, do ponto de vista legislativo, para a simplificação e desburocratização dos procedimentos administrativos, todavia têm-se revelado insuficientes para gerar uma verdadeira empatia entre o Governo, o cidadão e as empresas e que permita que um investimento seja mais célere.

Por isso devemos defender:

- Eliminação ou simplificação de procedimentos administrativos dispensáveis;
- A implicação e intervenção de vários departamentos e serviços governamentais - muitas vezes a burocratização resulta da participação procedimental de demasiados serviços ou departamentos;  
- Uma visão de conjunto (a actividade do governo, quando criada ou revista, acontece em sucessivos diplomas e portarias e parece muitas vezes ir mais ao encontro do equilíbrio entre secretarias, direcções de serviços e departamentos e não do serviço do cidadão e das empresas, para além de se tornar confusa e um autêntico labirinto legislativo);  

Há  várias  formas  de  resposta  a  essa falta de simplificação e desburocratização; passamos a dar algumas sugestões:

1. Comparar tanto quanto possível e homogeneizar os procedimentos administrativos seguidos pelas três autarquias e procurar um modelo compatível, que siga, de preferência, as exigências de âmbito comunitário, conferindo-nos assim mais reconhecimento, credibilidade e estabilidade perante a eventual apetência e interesse de algum investidor estrangeiro.

2. Promover a transparência em todo o processo administrativo, descentralizando, desconcentrando, impossibilitando e desincentivando a existência de procedimentos paralelos e potenciadores de criarem desconfiança e desinteresse por parte dos investidores.  


Competitividade  fiscal    

Estratégia  de  curto  e  médio  prazo   
À necessidade de estimular o investimento privado e promover o crescimento económico temos de responder com políticas fiscais e amigas do investidor que estejam bem definidas a curto e médio prazo. Para o curto prazo, são necessárias medidas que estimulem, de forma imediata  e significativa, o investimento privado das empresas e a segurança e estabilidade dos investidores. Celeridade, acompanhamento e objectividade.
Devíamos pensar na concepção dum  sistema fiscal inter-concelhio a praticar, pelas câmaras do norte (no que concerne ao investimento), competitivo e adaptado às diferentes realidades de cada concelho, podendo-se assim maximizar proveitos e aumentar a apetência dos investidores.

Para propiciar um acesso mais responsável ao capital para o investimento no norte da ilha, propõe-se:

A Criação de Gabinetes Concelhios de Apoio ao Empreendedor, onde se:

1. Promoveria o acesso simples e célere ao capital assim como ao aconselhamento económico-financeiro eficaz e orientado a resultados práticos;  

2. Propiciaria a concepção, partilha, comercialização e transmissão de conhecimentos entre projetos, tornando presente um espírito de conjunto onde todos possam sair beneficiados e onde os ganhos e interesses dos investidores estejam de certa forma aliados;

3. Promove uma cultura de empreendedorismo e se criam condições para a formação e atração de empreendedores;

4. Divulga, de forma generalizada, as potencialidades e as condições favoráveis que os concelhos do norte possam disponibilizar aos investidores.


Fundos  Comunitários   
A Estratégia Europa 2020 (2014-2010),dá prioridade ao crescimento inteligente, sustentável e inclusivo.
Até agora:
- temos investido em formação profissional, mas não investimos em capital humano;
- investimos em infraestruturas, mas algumas desnecessárias e muitas sem qualquer sustentabilidade.
- Investimos na coesão e proximidade e é verdade que os nossos concelhos, em termos materiais, progrediram, mas não podemos afirmar que estejam hoje mais coesos;

O ciclo 20142020 é um ciclo novo para uma Europa, onde a resposta aos problemas só pode ser encontrada e construída com mais responsabilidade e visão de desenvolvimento integral.
É nesse quadro que a preparação das candidaturas aos próximos fundos estruturais e de investimento deve decorrer, tendo como objectivo primordial, criar condições para que a nossa região possa iniciar o ciclo de crescimento económico e de emprego.
A gestão dos fundos comunitários deve, por isso, obedecer de forma reforçada aos princípios da racionalidade económica, da responsabilidade, da disciplina financeira, da segregação de funções de gestão, da prevenção quantos a possíveis conflitos de interesse, da transparência e da prestação de contas.

Deveríamos, por isso, defender o estabelecimento de:    
- Simplificação dos procedimentos de aplicação dos fundos;  
- Reforço da coordenação e integração entre fundos comunitários, privilegiando a programação multi-fundo;
- Nova cultura de parcerias para resultados, em particular nos novos instrumentos de abordagens territoriais integradas;
- Apoios reembolsáveis, nos sectores onde isso seja possível, de forma a possibilitar o efeito multiplicador e de alavancagem dos investimentos;
- Reforço da articulação entre fontes de financiamento regionais e comunitárias, tendo em vista um claro alinhamento entre a programação plurianual dos fundos comunitários e os orçamentos regionais;

A aplicação destes fundos comunitários tem de ser vista como uma oportunidade para construirmos um norte mais coeso e competitivo.
  
Substituição e redução de  importações    
É relevante perceber que apoios podem ser canalizados para a produção regional, sensibilizando os consumidores para escolhas que privilegiem produtos produzidos na Madeira. O crescimento do consumo privado será mais benéfico, no contexto que actualmente vivemos, quanto mais for feito à custa da escolha de marcas, produtos acabados e serviços produzidos na RAM ou pela substituição de importações por outras mais económicas e viáveis. Sabe-se que a União Europeia impede políticas protecionistas e que estas não são uma opção. Nesse sentido, a substituição de importações tem de ser feita pela competitividade e qualidade dos produtos regionais. Devemos defender uma política que crie os incentivos adequados à substituição de importações, enquanto política pública de apoio e suporte à produção regional.

São elegíveis para este propósito medidas de valorização, certificação e promoção de produtos regionais. Por outro lado, são importantes as medidas que permitam reduzir os custos de contexto, as dificuldades de escala e as barreiras logísticas.  

Dentro  desse  quadro  devem  ser  promovidas  e  apoiadas  medidas  como:  
-A certificação de origem de produtos regionais; 
- A certificação de qualidade da respectiva produção;  
- Campanhas de promoção do consumo de produtos regionais;
- Redução dos custos associados a factura energética das empresas;
- Apoio ao associativismo de produtores;
- Integração dos resultados desta política na hotelaria e restauração, assim como na promoção do destino Madeira;


3.  Turismo  
  
O sector do turismo, no norte da ilha, tem conseguido resistir à crise. Mesmo num contexto adverso as receitas turísticas têm vindo a aumentar ou pelo menos a estabilizar. Sendo um sector onde a concorrência é verdadeiramente global, para sobreviver, teve efectivamente que se fortalecer, apesar das múltiplas burocracias e taxas que limitaram a inovação e a adaptação do sector às novas realidades do mercado, apesar dos anos consecutivos de incentivos públicos à construção de nova oferta hoteleira e dos milhões de euros dos contribuintes gastos em eventos e festas e campanhas com resultados nulos. É fácil, neste contexto, apontar o potencial do sector, para se tornar um dos motores da recuperação económica do norte da ilha assim como da RAM no seu todo.   
Mas, para isso acontecer, são precisas grandes alterações face às políticas do passado.
A primeira passa por reconhecer que só tirando o governo regional da frente do sector privado é possível potenciar o crescimento e a criação de emprego no turismo.  
É necessário abrir espaço para que a inovação privada possa responder às necessidades e expectativas dos nossos turistas e, por essa via, dos madeirenses.
Esta resposta só será dada quando as empresas tiverem liberdade para poderem transformar os recursos turísticos do norte em produtos turísticos, também eles únicos. Mas há muito mais a fazer neste campo, seja no âmbito da requalificação de empreendimentos, seja na animação marítimoturística, seja na gestão e aproveitamento do litoral ou de áreas protegidas: o conjunto de burocracias que impede a criação de novos produtos e experiências, que possam competir com o mundo global, ainda é grande.

Durante anos confundiu-se o investimento no turismo com o investimento na construção. Esta “simbiose” levou a uma explosão da oferta hoteleira, sem um crescimento compatível da procura, o que, em conjugação com o excesso constrangedor de regulação, implicou que a única forma possível de ajustamento a esse excesso de oferta fosse a redução de preços. Uma redução de preços que levou a que muitas das empresas deixassem de ter capacidade de continuar a pagar as dívidas que contraíram para financiar o crescimento da oferta hoteleira, gerandose um círculo vicioso difícil de quebrar. Onde, senão no norte, é isto por demais evidente?
  
Dar resposta a esta circunstância implica que o Governo Regional deixe de tentar decidir que capacidade turística deve ser oferecida pelos privados. Isto é assegurado pela progressiva liberalização das diferentes actividades turísticas.
Temos que garantir que o capital disponível, seja ele privado, público ou de fundos comunitários, possa ser canalizado para o reforço da competitividade do sector e para a inovação.  
Trata-se de fazer o turismo actualizar-se, de acordo com as novas tendências da procura. Turismo não é apenas alojamento, é muito mais do que isso, realidade que não foi tida em conta enquanto tudo se pareceu resumir a construção, pelo que importa criar condições para que o sector possa, sem entraves, manterse competitivo, também com recurso a fundos comunitários: melhorando a sua gestão (mais e melhor formação), conhecendo melhor a procura,  criando instrumentos de fidelização, gerando novos produtos turísticos, internacionalizando a sua presença e ganhando competitividade. Defendemos para isto a criação dum grupo de trabalho que estude e acompanhe as tendências da procura e crie produtos consistentes e robustos para alicerçar a oferta turística dos concelhos do norte da ilha. Este grupo de trabalho providenciará toda a informação necessária para potenciar o papel do turismo na recuperação económica e estará directamente relacionada com a forma como é feita a promoção e a comercialização turística. Dará ainda fortes indicações para potenciar investimento.
A promoção tem sido feita de uma forma dispersa, redundante, pouco objectiva, cara, pouco flexível e indiferente aos seus resultados. Temos que ser parte da concepção dum modelo de promoção que responda às diversas necessidades e realidades do nosso destino turístico. Tudo isto enquadrado numa estratégia comum, definida de forma participativa e executada de forma descentralizada.  
Estas vertentes da inversão de rumo serão essenciais para o aproveitamento das potencialidades do sector que, tendo sido sempre obrigado a competir internacionalmente, está bem posicionado para reafirmar-se como uma das soluções de futuro que o norte tanto precisa. Para tal acontecer é essencial que o governo regional tenha a capacidade de, simultaneamente, consumir menos recursos e de assegurar que os recursos que consome são ao serviço das empresas.  
Para  o efeito, pode ter-se em consideração várias opções:
- Maior articulação e concertação na promoção e projecção do norte da Madeira, associando o turismo à agricultura, à cultura, à indústria, aos transportes e ao mar numa estratégia de coerência e de aproveitamento de recursos;  
- Consolidação dos mercados tradicionais, ainda com enorme potencial e procura de novos mercados;  
- Criação de condições para o desenvolvimento, pelos privados, de novos produtos turísticos e para a requalificação de outros produtos (diversificação), como são o turismo residencial, o turismo de saúde, de natureza, de segunda residência, o turismo religioso ou o turismo de congressos;  
- Concepção duma política de transportes inter-concelhia no norte da ilha.  


4. Comércio  e  Serviços  

As micro e pequenas empresas têm no sector do comércio e dos serviços, dificuldades acrescidas, pelo que nas actuais condições de financiamento da economia, não podemos esquecer as empresas de menor dimensão.
  
Essencial nesta matéria é também defendermos a redução de custos de contexto. A quantidade de licenças, procedimentos, taxas e burocracia existentes são muitas vezes para os pequenos negócios um obstáculo intransponível.

É naturalmente saudável que os municípios adoptem diferentes políticas. Contudo, isso não impede que haja medidas de simplificação generalizada que agilizem procedimentos, eliminem burocracias inúteis e impeçam práticas obstaculizadoras do livre estabelecimento. Com a actual pressão para a obtenção de receitas municipais, é essencial defender a contenção, a bem do investimento, na criação de taxas municipais, na área do investimento.

Finalmente, a introdução de políticas de sensibilização dos consumidores para que privilegiem produtos regionais pode ter um papel muito positivo para o comércio, ao mesmo tempo que favorece também a produção regional.





5. Conclusões    

Este documento têm, por objectivo, lançaruma reflexão séria e proactiva para o crescimento da economia e do combate ao desemprego no norte da ilha como veículo para a fixação da população mais jovem. São estas as prioridades que defendo, mas que dependem, em boa medida, do acerto e coordenação das políticas a nível europeu, nacional e regional. Sem estarmos alinhados e convictos na intenção de nos comprometermos com este objectivo, no norte ou mesmo para toda a RAM, é difícil, para não dizer, quase impossível, a sua concretização.

Este compromisso, exige um enorme espírito de negociação, responsabilidade, compromisso, envolvimento e dedicação. Entre os 3 concelhos do norte, com o governo regional, com a República e com a UE. Não podemos porém, deixar de ser ambiciosos em todo este processo de planificação e negociação. Face à evolução dos resultados económicos do país e da região e com a finalização do PAEF já no início de 2015, consideramos ser essencial fazermos notar o nosso profundo incómodo com o rumo da evolução da  economia e do desemprego e apresentar propostas que permitam, naquilo que dependa de nós, inverter este declínio já partir de 2015. O nosso objectivo é que 2015 seja um ano de viragem para o norte da ilha e consequentemente para toda a RAM e de crescimento económico. O norte da nossa ilha pode e tem o direito de ser algo maior e um motivo de orgulho para todos nós.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sou tu

Sou Tu (Minha ilha)

 I
 A terra cuspiu o fogo que se fez rocha, Que se viu rodeada de puro azul. Desse azul que a faz tão protegida Como de si cativa. E assim talhou suas gentes. A uns fez mar, Outros, rocha. Mais que vieram e ficaram e se multiplicaram. Com filhos feitos mar E outros com filhos feitos rocha. O mar que se move, A rocha que permanece. A ansiedade da rocha contida. O mar que a protege e mantém cativa. Assim se fizeram suas gentes. Rocha que fica. Mar que vem e vai e volta. Esse mar que passeia as sementes, Que só a terra faz crescer até o fruto. O mar que engole e cospe. também se fizeram suas gentes Neste lugar, aqui, Onde a rocha e o mar partilham as almas das gentes.

 II
 Na terra verde e negra Feita de escarpas, Rodeada desse azul, Onde rocha e água são irmãos, Nasce gente branda. Branda como a natureza, cá. Agora doce, Logo amarga. Gente que, pela ânsia do mar revolto, Nele embarca, à procura doutro sítio. Terra onde parar, Para vir. Vencer a ilha. Vencer a rocha e o mar e voltar. Para o cortejo anual triunfante, Enfeitado por bovinos mortos e canja, Regados pelo vinho das íngremes encostas. Carrascão exclusivo. Néctar dos tempos de criança Com açúcares e citrinos. Mas isso, era a parte boa. Pior, era a ilha. Pior, era o mar e a rocha. Pior, era não acreditar depois do horizonte. Prova de fogo. Mas voltar. Sempre voltar

III
 Cresceu onde foi parido Naquela encosta do vale em forma de ferradura, Com a abertura virada para o mar. Aconchegado da força do vento e do mar, Como que abraçado pelo vale. Ele e os outros. Cresciam, viviam e morriam ali. Por hábito. Pelo calor da terra no Inverno. Pela fresca aragem que inundava o vale Vinda do mar, no Verão. Chega-lhe esse céu, sempre disse. E chega-lhe este mar. Dão tudo e são em tudo verdadeiros. Salta a lapa que apanha o polvo, Que apanha a moreia. Traz a vaca e mata o porco e arranja a galinha. Coze semilhas e inhame. Chama o tio e a tia. Que tragam a avó e os primos. Vamos todos para a mesa, Jantar.

 IV
Good morning! Bye Bye! Thank you! Money, Money! São os ingleses De calção e roupa branca Com estranhas fitas e óculos Com coletes azul-bebé e bege. Sapatos brancos e peúga até meia perna. Vêm no “horário”. São turistas e vêm e vão. Alguns dão “Money”, Outros não. Meu João é deles guia. Leva-os a seus pastos, Tratando que se não desgarrem. Vêm de longe para esta erva, que não entendem. E como é impossível que sintam, Este mar sempre. A rocha sempre. E as flores e o verde E o ameno sol sempre. E como isso nos faz despreocupados. Cigarras do ano inteiro. Não. Não temos Inverno. Só a fúria das águas e do Vento.

V
 O melhor peixe É o da parte mais funda do mar. O melhor alho É o do alto dos picos mais altos. Porque a rocha e o mar nos obrigam. Porque o mais difícil, entre irmãos É não ser-se igual. Ser contentado com mar e rocha. Ouvi-los sempre e falar com eles. Sem contrariar. Respeito mútuo entre nós e a rocha e o mar. Para fugir com a mente ao castigo, Que fingimos não temer. Porque está no sangue. Mar na rocha e rocha no mar. Ainda que nascesse no outro lado do mundo, Só me encontraria aqui. Na rocha do mar e no mar das rochas. Nos picos e descendo e subindo suas encostas. Nestes Inverno e Verão, Feitos Primavera e Outono.

 VI
Muito e bem lhe pediram Seu pai e sua mãe. Mas ,nunca uma enxada sequer enxergou, Nem uma saca de semilhas carregou. Nunca com a mãe esbulhou o feijão. Nem nunca sequer lhe apanhou, Um novelo de lã, caído ao chão. Ganhou porém seu sustento Assim mesmo, no estrangeiro. Voltou vinte anos depois. Esperava-lhe um funeral. Arranjou a velha casa, Com a poupança escondida dos vícios novos. Regressou de novo “lá fora”, Para então vir de vez, Com os filhos que já não vieram. Sempre a rocha e o mar e o mar e a rocha. Foi fácil esquecer porque voltou E de onde e para quê. Quando acordou Já não sabia sequer de onde tinha voltado. Acordaram-se-lhe o mar e a rocha No peito a crescer. Levantou-se e foi lá fora, Ouvir o dia amanhecer.

 VII
Almas todas a correr Atrás do faz de conta. Tanto, que se esquecem de si. De repente, todos eram de Nova York. De Londres, de Paris. Daqui, nenhum. Como se o mar e a rocha se incomodassem. Eles nunca fingem. Perentórios, certeiros, autênticos. Faltas-me e falto-te, dás-me e dou-te. Desrespeitas e castigam. Mas com o grande “desculpador” Tudo fica mais sagrado, divino e inatingível. E abre-se o desafio e fere-se. Abre-se feridas que trespassam a rocha, Jogando-lhe o sangue para o mar. Seu irmão. E os tais ingleses, Vêm os homens a matar a rocha. Vêm os homens a cuspir para o mar. Faz de conta. Luxemburgo, Mónaco, Saint-Tropez, Como se o mar e a rocha se incomodassem.

 VIII
Ilha de mar e rocha Com nome de árvores Sempre cheia de coloridas flores Para além da razão das estações. Cheia de homens com mãos de rocha-mar E de outros tantos que te procuram E com outros tantos que em ti se encontram e ficam, Porque te olham com a estranha admiração verdadeira. E tu dás-te. Abres-te com o teu sempre maduro, Cheio de cores e odores e sabores, Que nos fizeram sempre homens diferentes. Com a persistência da rocha E a transparência do teu irmão mar, Quando se mostram serenos. Olhássemos nós para ti e te pedíssemos, Em mútuo contemplar, E compreenderíamos ser mais belos Se fôssemos só o que somos, Sem te querer transformar em nós. Magnânimos, inconsequentes. E em vez de logo pedir a ti, Pedem e justificam a um “desculpador”.

 IX
E a mim, Como me embalas, tu. Teu corpo mar, deitado nas rochas. Como mergulho em ti E percorro cada escarpa tua. Como me dá seiva, Deixar-me correr pelas encostas E, por fim, mergulhar em ti. Ser tu. Ser o que somos eu e tu. Eu para ti e tu para mim. Sou como tu, mar e rocha. Fizeste-me. Nasci de ti e em ti. Em ti vivo e faço Até que por fim, regresse a ti E faço-me tu. E que me reguem as flores por cima, Ou que me plantem uma árvore. Por tudo o que és, chegas-me. Gosto-te. Sei que, ateus olhos, não firo nem destoo. Sou como tu, Mar e rocha e escarpas e encostas, E sol e flores e ameno. Sou tu. Minha ilha.

domingo, 6 de março de 2011

Pensamento


São ciclos, acho eu. E por cada novo ciclo, temos quase sempre a escolha de poder fazer melhor. De corrigir. E a vida, para mim, é essa tentativa de melhoria constante. De estarmos melhor e termos um melhor espaço à nossa volta. Mas se nos focarmos excessivamente nesta procura constante, não temos tempo para aproveitar o que temos e que nos vão dando. As prioridades vão mudando conforme o que vale a pena continuar a procurar se vai definindo, assim como o que sabemos ter já encontrado. Não podemos considerar que tudo são variáveis. Ou arriscamo-nos a olhar para trás e apenas ver um monte de oportunidades não aproveitadas, por desenvolver. Para mim, o mais importante é a minha paz de espírito e ter a consciência tranquila. Se as tiver, tudo corre naturalmente e pacificamente bem.
Já percebi que se contrariar o meu instinto e fizer aquilo que a minha "vozinha interior" me aconselha, me sinto depois satisfeito genuinamente. Essa sensação de poder sobre os meus instintos faz-me crescer e sentir-me no controlo de mim. E esse sentimento é algo especial e grandioso. Como alguém que consegue, depois de uma luta, deixar de fumar, por exemplo. Essa sensação de controlo sobre o bicho em nós. Sentirmos que temos uma escolha sempre, em vez de simplesmente nos deixarmos guiar e ir. É dessa sensação que falo. Desse orgulho. Dessa força. Desse crescimento. É fazermos algo que julgamos antes não sermos capazes. Ultrapassarmo-nos.
Experimentem com tudo. Com a vossa vida no trabalho. Em casa com a família. com as vossas finanças. Vão perceber do que falo. Contrariarmos a nossa própria vontade é que é o mais difícil.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A RUA DOS CATAVENTOS

Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.

Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.

Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arracar a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!

Mario Quintana

domingo, 23 de janeiro de 2011

MUDAR E SEGUIR


Mudar
Fazer
Sentir
Agir
Aceder
Ceder
Pedir
Querer
Mostrar
Saber
Dar
Receber
Dizer
Ouvir
SORRIR
... e Seguir...

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

5 anos. Obrigado!



PAssaram cinco anos. Parece que foi ontem. Renasci. Reabri os olhos. Reenxerguei. Levantei-me de novo. Vi de novo. Senti de novo. Senti. Parece que foi ontem. E esta "coisa" de sentir tem tanto que se lhe diga. Sentir é olhar para dentro. Sentir é deixar sair da alma para nós. É saber apanhar os golpes, gozar as gargalhadas, deixar correr lágrimas, pedir ajuda, saber ser anão nos medos e gigante nos sonhos. Sem trasgredir com o nosso íntimo. Sem nos magoarmos. Sem nos escondermos de nós. Saber perdoar e pedir perdão. Voltar atrás e corrigir. Ilibar inocentes. Assumir culpas e glórias com igual prontidão. Saber falhar e saber vencer. Respeitar. Pedir respeito. Saber esperar. Ouvir. Conseguir duvidar de nós mesmo quando temos toda a razão. Sair fora e olhar para nós de cima. Sentir é estar cá. Sentir é ser verdadeiro. Verdadeiro para mim. Com os meus defeitos e qualidades. E aceitar que sou preto e branco mas não nem nunca cinzento. E vale a pena e quero mais cinco e mais dez e mais vinte. Mas sempre de um em um. Porque um ano é feito de 365 Uns.
Por tudo isto valeu e vale a pena. Por tudo isto quero mais. E como detesto aquelas frases tipo "vive hoje como se não houvesse amanhã" e mais aquelas do tipo das pedras do caminho para fazer castelos e afins, só lhes digo (e esta é minha)
- Tanto andei e procurei e quis saber e experimentar e fui aqui e além e tudo o que preciso e sempre quis e procurei para estar bem está aqui dentro de mim.
A felicidade vem de dentro para fora e não ao contrário.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011